A Escolástica e o Materialismo representam duas correntes filosóficas distintas, cujas abordagens e visões sobre o mundo estão em forte oposição. Enquanto a Escolástica, que floresceu na Idade Média, busca a conciliação entre razão e fé, o Materialismo, especialmente o materialismo histórico de Karl Marx, coloca a matéria como a base de toda a realidade, desconsiderando as explicações metafísicas e espirituais. Neste artigo, exploraremos como essas duas correntes filosóficas diferem em seus pressupostos e implicações, destacando suas influências no pensamento moderno.
"A fé e a razão são, de fato, duas vias complementares para a verdade", afirmava Tomás de Aquino, um dos maiores representantes da Escolástica.
Essa frase resume a visão escolástica de que razão e fé não estão em conflito, mas são duas formas de acessar a verdade divina e a moralidade humana, algo que contrasta fortemente com o materialismo que nega qualquer explicação transcendente para a realidade.
Escolástica: A Harmonia entre Razão e Fé
A Escolástica é uma tradição filosófica e teológica que se desenvolveu durante a Idade Média, caracterizada pela tentativa de reconciliar a razão humana com a fé cristã. Filósofos como Tomás de Aquino defendiam que a razão, ao ser corretamente utilizada, não entra em conflito com a fé, mas pode, de fato, aprofundá-la. Aquino, em sua obra "Suma Teológica", argumentava que a razão humana poderia compreender muitas verdades divinas, embora as questões últimas da salvação e da natureza de Deus fossem acessíveis apenas através da revelação divina.
Na Escolástica, o universo é visto como criado e ordenado por Deus, e as verdades da razão natural não se contradizem com as verdades da fé. Isso leva a uma visão integrada da realidade, onde o mundo material é visto como reflexo de uma ordem divina e a razão humana é vista como capaz de entender essa ordem. Para Aquino e outros filósofos escolásticos, a busca pela verdade era uma união entre a investigação racional e o entendimento religioso.
Como destaca John Haldane, filósofo contemporâneo, "A Escolástica fornece um modelo poderoso para a síntese de razão e fé, permitindo que ambas conduzam a um entendimento mais completo do universo e da moralidade humana."
Materialismo: A Primazia da Matéria e a Negação do Espiritual
Em oposição à Escolástica, o materialismo filosófico, especialmente o materialismo histórico desenvolvido por Karl Marx, vê a matéria como a substância fundamental que constitui toda a realidade, incluindo a mente e a consciência. Para os materialistas, tudo no universo pode ser explicado por leis naturais, e não há espaço para explicações metafísicas ou espirituais. A matéria, com suas propriedades físicas, é tudo o que existe e deve ser o foco de qualquer investigação científica ou filosófica.
No materialismo histórico, a história humana é entendida através das condições materiais de existência, e a realidade social é determinada pelas relações de produção econômica. Marx e Engels acreditavam que as ideias e as instituições não eram fontes autônomas de mudança, mas sim reflexos das condições materiais e das estruturas econômicas. Em outras palavras, a consciência humana, para os materialistas, é produto da materialidade e das condições sociais, e não uma interação com uma realidade transcendente ou divina.
Essa abordagem materialista se distancia da visão escolástica, que coloca a realidade última e a moralidade como dependentes de uma ordem divina. Para os materialistas, as explicações religiosas ou metafísicas são ilusões criadas pelas estruturas sociais e ideológicas para justificar a exploração e a opressão.
Em sua obra "O Capital", Marx escreve: "A produção das ideias, das concepções, das consciências, é, diretamente, fetiche da produção material", argumentando que as ideias e a consciência humana são subordinas às condições materiais de vida e ao modo de produção.
A Oposição Fundamental: Razão vs. Matéria
A principal oposição entre a Escolástica e o Materialismo pode ser entendida na forma como cada uma aborda a relação entre razão, fé e a natureza da realidade. A Escolástica, representada por pensadores como Tomás de Aquino, vê a razão como capaz de compreender a ordem divina do universo, sendo complementada pela fé. Já o materialismo, especialmente na tradição marxista, coloca a razão humana e as ideias dentro de uma estrutura materialista, negando a relevância de qualquer explicação espiritual ou transcendental para a realidade.
Enquanto a Escolástica vê a razão humana como parte de um plano divino e em sintonia com uma ordem universal, o materialismo histórico argumenta que as ideias são reflexos das condições materiais e das relações de poder e produção na sociedade. O conflito entre essas duas abordagens reflete não apenas uma diferença filosófica, mas também uma diferença profunda nas implicações sociais e políticas.
Alasdair MacIntyre, filósofo contemporâneo, observa que "a Escolástica ainda oferece respostas valiosas para questões sobre moralidade, que o materialismo, com seu foco na economia e nas relações materiais, muitas vezes não consegue abordar adequadamente." Isso sugere que, enquanto o materialismo pode ser eficaz para analisar questões sociais e econômicas, a Escolástica continua a fornecer um modelo mais robusto para a reflexão ética e moral.
Conclusão
Em resumo, a Escolástica e o Materialismo apresentam duas visões profundamente diferentes sobre a natureza da realidade e o papel da razão. A Escolástica, com sua tentativa de conciliar razão e fé, oferece uma visão de mundo em que a realidade material é entendida como parte de uma ordem divina. Já o materialismo, com seu foco na primazia da matéria e na explicação das ideias como produto das condições materiais, desafia qualquer conceito transcendente ou metafísico da realidade. Essas duas correntes filosóficas, embora antagônicas, continuam a influenciar o pensamento contemporâneo e a debate sobre as questões fundamentais da natureza humana e da sociedade.
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